É sabido que ficou aquém das expectativas a hasta pública para a arrematação dos inertes extraídos da área onde se está a processar a construção do Sportsfórum, noticia o Diário de Aveiro.
«Os cinco interessados que compareceram no passado dia 3 de Maio, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, ficaram todos «mudos», não se tendo registado uma única licitação.
Em face do acontecido, a Câmara Municipal de Ovar anunciou que está a trabalhar no sentido de encontrar uma alternativa que estará pronta a ser amanhã apreciada e votada em reunião do executivo.
Fonte da autarquia disse ao «Diário de Aveiro» que é possível que os interessados tenham combinado entre si não licitarem para tentar fazer baixar o preço da tonelada de inerte. A mesma fonte adiantou que o valor pedido pela autarquia (base de licitação era de três euros e setenta e cinco cêntimos, por tonelada, não sendo aceites lanços inferiores a cinquenta cêntimos) já era bastante inferior aos preços praticados pelo mercado. Ora, o ambientalista Álvaro Reis tem uma opinião diversa sobre o destino a dar àquela areia.
«Mesmo que alguma dela fosse vendida, penso que deveria ser aplicada na reconstrução dunar da nossa costa», defende. Colocado perante a possibilidade das 640.000 toneladas virem a ser mesmo vendidas, o autor de «A Praia dos Tubarões» não tem dúvidas em afirmar que então «algo está mal nesta visão de gerir os bens públicos, pois esta areia (que outrora foi areia de praia tendo sido retida ao longo dos anos pela mata) deveria hoje voltar novamente ao litoral para minimizar os efeitos da erosão costeira».
Álvaro Reis apela à Câmara Municipal de Ovar para que «procure fazer uma utilização racional desta areia utilizando-a na reconstrução do cordão dunar ovarense». Na óptica deste ambientalista, pioneiro no estudo dos factores que contribuem para o recuo costeiro na zona de Ovar, «uma iniciativa destas, devidamente planificada, marcaria uma verdadeira mudança no estilo de liderança autárquica vigente nos últimos doze anos, pautado, entre outros, por uma insensibilidade perante a contínua degradação do litoral vareiro e uma incapacidade de um diálogo construtivo no sentido de uma melhor resolução dos problemas costeiros».
Recorde-se que em «A Praia dos Tubarões», Álvaro Reis aborda, entre outros temas, a extracção ilegal de areias em depósitos consolidados afastados da linha de costa, frequentemente florestados, alguns deles no concelho de Ovar, «flagrantemente» localizados nas proximidades do centro da cidade. Estes depósitos de areia, refere também num outro capítulo do mesmo livro, «deveriam ser hoje preservados, já que num futuro próximo poderão vir a ser necessários para abastecimento das nossas praias e dunas». (Diário de Aveiro)