A China e a Índia, representam «uma das zonas do globo onde se deve ter uma preocupação muito grande em garantir que aquele desenvolvimento, a que esses povos legitimamente aspiram, seja feito com o maior cuidado possível do ponto de vista ambiental e dos recursos naturais», comentou Carlos Borrego, Presidente da Comissão Organizadora da 9ª Conferência Nacional do Ambiente sobre a intervenção de Susanne Mosdorf, Vice-Directora para o Desenvolvimento Sustentável e Saúde Ambiente da Organização Mundial de Saúde (WHO/OMS) naquele encontro realizado em Aveiro e que terminou esta sexta-feira.
Como observou Carlos Borrego, a Índia e a China representam «quase metade da população do mundo. Se o desenvolvimento nesses dois países for feito como foi nos países desenvolvidos, de certeza que iremos encontrar gravíssimos problemas do ponto de vista de saúde, sem falar já nos problemas dos recursos naturais
A 9ª Conferência sob o tema «Um Futuro sustentável – Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento», incluiu durante três dias e com cerca de quatro centenas de participantes, duas sessões plenárias e vinte sessões paralelas, a apresentação de várias dezenas de posters, a exposição «Da emergência planetária à construção de um futuro sustentável» e a divulgação do Portal «Ambiente & Saúde».
Sobre a conferência «Riscos Ambientais e Saúde», proferida por Susanne Mosdorf, Carlos Borrego disse que mostrou «como é que as questões ambientais são vectores determinantes em termos da saúde, em particular nos países que ainda não são considerados desenvolvidos, os designados países em desenvolvimento. A maior parte das doenças que esses países têm resultam precisamente de problemas ambientais que não foram tratados adequadamente. Para dar um exemplo, a questão do tratamento de águas residuais, que a maior parte desses países não tem, é um dos vectores principais para a cólera».
Segundo Carlos Borrego, Susanne Mosdorf mostrou que «mesmo nos ditos países desenvolvidos começa-se hoje a ter a consciência clara que muitos dos poluentes, quer atmosféricos, quer de água ou de resíduos, os chamados poluentes persistentes no ambiente, têm consequência de longo prazo. Começam-se encontrar doenças que, segundo os dados da Organização Mundial de Saúde, resultam da exposição prolongada a poluentes que foram lançados e que persistem no solo ou nas águas».
A conferência da Vice-Directora da WHO / OMS mostrou, segundo Carlos Borrego, «que as questões ambientais estão muito ligadas aos problemas da saúde e, simultaneamente, à necessidade de ter organismos que consigam, em termos mundiais, dar orientações claras sobre quais são as áreas estratégicas, e as áreas que devem ser olhadas segundo uma perspectiva global e não apenas nacional».
Na intervenção de Jan Pronk, sob o tema «Governação e Ambiente», referiu-se à «demografia explosiva, o hiper consumo, os conflitos em termos de guerra», que segundo Carlos Borrego, «têm consequências sob o ponto de vista ambiental e também de saúde, pelo que são problemas internacionais que deviam ser tratados a nível de uma organização que permitisse ter uma visão estratégica sobre qual vai ser o desenvolvimento do mundo. Essa organização não existe e temos visto que as Nações Unidas não o têm conseguido fazer».
Jan Pronk referiu-se à dificuldade de pôr em prática o Protocolo de Quioto, da dificuldade de conseguir que os países aceitem a lei do mar.
Por isso, defendeu que é fundamental haver uma «reforma de todo o sistema de governação, garantir que esse sistema de governação, em termos mundiais, fosse eficaz, mas, para isso, seria necessário que os países se revissem nesse sistema, o que hoje não sucede. Os países já não se revêem no sistema das Nações Unidas, não participam com total responsabilidade e não cumprem as resoluções das Nações Unidas. Este é um problema claramente global que dificilmente se consegue resolver, e do qual o ambiente e o desenvolvimento sofrem».
Não havendo esse sistema, Carlos Borrego diz que «Jan Pronk remete isso para os Estados e, dentro dos Estados, para as pessoas, dizendo “não confiem nos políticos”, e ele é político, “não deixem os políticos sozinhos a tomarem decisões. Como cidadãos, sejam capazes de intervir nas decisões”, mas também disse “não deixem os cientistas sozinhos, não deixem a ciência só para os cientistas”, como quem diz “não é por uma decisão ser cientificamente correcta e técnica que ela deve ser implementada, há também a vertente política no processo”, ou seja, temos que olhar para tudo isto sob a vertente social».
Na sessão de abertura, o Presidente da Comissão Organizadora afirmou que «presentemente, nos países como Portugal, e num contexto quer nacional quer regional, a palavra mágica da política chama-se desenvolvimento e, quando adicionada do adjectivo sustentável, a magia torna-se algo fascinante. Mas toda a magia é feita de pequenos artifícios altamente complexos, que exigem muito treino e experiência. Estes artifícios só se conseguem com inovação, formação e informação, elementos indispensáveis de um desenvolvimento continuado que, por sua vez, conduzirá ao tal desenvolvimento sustentável que torna os povos porventura mais felizes, porque mais humanos, mais cultos e, portanto, mais ricos».
Sobre a poluição do ar «ainda é mais complicado, durante muitos anos considerou-se que o ar era um recurso absolutamente inesgotável, pelo que nunca foi tratado como recurso, mas como qualquer coisa que era inesgotável. Só agora é que chegámos à conclusão que afinal o ar é um recurso como outro qualquer, tem que ser tratado com parcimónia e não podemos continuar a lançar para o ar aquilo que fazemos porque tem consequência. A asma e as doenças respiratórias são, apenas, dois exemplos. Há outros exemplos complicados, como alergias de pele, problemas nos olhos, cancros de pele, e outros, que não têm directamente a ver com a respiração mas que também vêm também da má qualidade do ar».
Sobre o comércio de emissões «não é mais do que uma maneira indirecta de fazer pagar aquele recurso que é o ar, e fazê-lo pagar de modo que ele se mantenha com qualidade. E isto para evitar que a sua degradação tenha maiores efeitos sobre a saúde humana, aos vários níveis e não apenas a respiração», disse.
Respiramos «quinze quilos de ar por dia, por contraponto com cerca de dois quilos de alimentos sólidos e líquidos. Se o ar não é de qualidade, ao fim de muito tempo a respirar quinze quilos de ar, obviamente que esse organismo se ressente por não ter um ar de qualidade. É tudo isto que neste momento está a ser posto em causa, do ponto de vista local, e do ponto de vista global temos dois exemplos flagrantes: alterações climáticas e efeito de estufa», disse o presidente da organização da conferência.
As equipas médicas «começam a ser parceiros absolutamente fundamentais neste tipo de projectos e, felizmente, começamos a ter projectos em que estas interacções se fazem entre equipas de engenheiros e equipas de médicos», conclui o Presidente da Comissão Organizadora.