Comunicado do Presidente da Câmara Municipal de Aveiro
“A propósito da renúncia de Aveiro em acolher uma das sedes do Campeonato do Mundo de Andebol, a Junta Directiva do Centro Desportivo de S.Bernardo acaba de emitir um comunicado em que “rasgou” a carta de princípios éticos que devem presidir ao relacionamento entre o clube e a Câmara Municipal.
É um comunicado que “envergonha o S. Bernardo perante Aveiro e o País”, e que desqualifica a sua Junta Directiva pela “indigência dos comportamentos e atitudes”, já que, quanto aos meios financeiros, a indigência do clube sempre foi suprida pelo executivo camarário que, agora, têm o desplante de caluniar e tentar denegrir.
A reacção da Junta Directiva do S. Bernardo, não tem razão no que diz e não tem tino na forma como o diz. Aproveita apenas um pretexto para abandonar o barco. Na verdade, não houve nenhuma diminuição do apoio ao S. Bernardo, pelo contrário. Não acredito que esta tripulação tenha inventado um rombo no casco para fugir e insultar quem os apoia na expedição, como fazem os capitães sem fibra, nem carácter.
Há aqui outras motivações, nada desportivas, que todos percebemos.
Nenhuma delas porém é boa, para justificar a insinuação, a falta de rigor e a tentativa de enganar a opinião pública e os associados do S. Bernardo. Ora, os aveirenses não me elegeram para me calar perante ignomínias.
Vejamos então.
Em primeiro lugar, como a Junta Directiva bem sabe e maldosamente omite, não rompemos levianamente o contrato com a Federação Portuguesa de Andebol: foi só depois de termos dialogado com ela e de termos encontrado uma alternativa – sem prejuízo para a prova- e para o prestígio de Portugal, que oficializamos a nossa decisão. Fizémo-lo, com o sentido de responsabilidade que agora está a faltar à Junta Directiva, com todo o respeito pela ética e preocupação pelo sucesso da organização, e com a cortesia institucional e pessoal de avisar previamente o S. Bernardo das nossas intenções.
Em segundo lugar, como a Junta Directiva muito bem sabe, embora malevolamente insinue o contrário, este executivo abraçou a possibilidade de trazer para Aveiro dois jogos do Mundial de Andebol, como reconhecimento pelo papel crucial desempenhado pelo S. Bernardo na formação dos jovens e na afirmação de Aveiro no Andebol nacional. Convém aliás lembrar, para quem não sabe, que a formação desses jovens é financiada e viabilizada por este executivo, podendo esperar-se que o S.Bernardo estivesse grato a esta Câmara por ter os seus apoios camarários em dia – e eles totalizam 3.500 contos por mês…
Em terceiro lugar, a apresentação pública do Mundial em Aveiro, “pouco antes das eleições autárquicas”, ao contrário do que possa parecer a quem está viciado em quejandos métodos, não foi da iniciativa da Câmara Municipal e decorreu sem pompa e com muita discrição.
Em quarto lugar, convém que os aveirenses saibam que só em despesas obrigatórias inerentes à organização do Mundial e às indispensáveis obras de ampliação do Pavilhão, o Município teria que despender mais de 100 mil contos. Ou seja, quase o custo de um novo Pavilhão. É certo que tínhamos assumido o compromisso, porque, na ocasião, nos pareceu uma oportunidade para propiciar novos investimentos no Pavilhão, na Aldeia Desportiva e nas acessibilidades em S. Bernardo. Mas também é certo que, honradamente, só renunciamos a esse compromisso depois de termos encontrado à Federação uma alternativa num equipamento desportivo de qualidade superior.
Uma “vergonha” é, pois, o que diz agora a Junta Directiva.
Quando nos candidatámos ao acolhimento do Mundial, o que nos moveu não foi a vaidade própria, nem a facilidade: foi a vaidade pela competitividade desportiva dos nossos jovens andebolistas, foi a vontade e o desafio de engrandecer a freguesia de S. Bernardo e o clube.
Quando renunciamos, o que nos move é o sentido de responsabilidade, a defesa do interesse público de todo o Concelho e de todas as modalidades. E, mesmo, na renúncia, garantimos ao S. Bernardo que seriam feitas as obras que são necessárias no Pavilhão e que prometidos apoios financeiros suplementares (dez mil contos) seriam mobilizados.
Depois disto houve alguém que “trocou a honra” por uma porta de saída e por um momento de atenção do público. E esse alguém não fomos nós.
Em quinto lugar, a Junta Directiva alude a “propostas concretas” feitas pelo Senhor Presidente da Junta de Freguesia de S. Bernardo “que permitiriam a realização deste evento com custos financeiros bastante inferiores…”. Respeito muito a tentativa do Sr. Presidente da Junta em querer ajudar, mas, como a Junta Directiva bem sabe, a proposta que foi apresentada, além de boa vontade, não tinha consistência.
Enfim, ficamos todos a saber que esta Junta Directiva anunciara que só se mantinha à frente do Clube por causa do Mundial. Terminada a festa e os holofotes, já tinham decidido que se iriam embora. Cada um fará o seu próprio juízo sobre este abandono.
E compreende-se então que a decisão da Câmara sirva de pretexto para sair já. Escusavam era de o fazer pela porta pequena, própria de quem faz batota ao jogo, com grande alarido, patenteando um peculiar quilate de dirigentes desportivos, caluniando gratuitamente e com segundas intenções, quem sempre os apoiou e defendeu.
Esperava desta Junta Directiva que lamentasse a renúncia ao Mundial.
Não esperava ter que lamentar a renúncia dela a um relacionamento de boa-fé e à lisura de atitudes.
Esta Junta não soube estar à altura da confiança que a Câmara nela depositou e dos muitos compromissos financeiros que por causa dela avalizou e concedeu a bem da sobrevivência do S. Bernardo. O executivo camarário saberá retirar as ilações devidas a esta indignidade”.
Alberto Souto de Miranda