A semelhança de outras cidades que, à medida que cresceram, foram adoptando modelos de vida mais urbanos, também em Aveiro a tradição da visita pascal quase se perdeu nos últimos anos, noticia o JN.
«Faltou pouco. Porém, depois de um interregno de 35 anos, a sineta voltou a fazer-se ouvir-se nas ruas e as portas voltaram a abrir-se, para receber a mensagem da ressurreição de Cristo, na freguesia urbana da Vera Cruz.
Recuperou-se a tradição, no quadro de um plano de pastoral da paróquia consagrado à ideia de “abertura” e “acolhimento”, que o pároco, Manuel Joaquim Rocha, traduz em “acolher o nosso semelhante em nós, nas nossas casas, nos nossos prédios, no nosso bairro”.
Cada vez mais
E, a avaliar por estes dois anos de experiência, voltou para ficar. Com o aumento do número de adesões, de ano para ano, a mostrar que a tradição está presente e bem viva, se bem que conformada com as exigências da vida urbana. Teve de adaptar-se.
“Na Beira Mar, que se mantém quase como uma aldeia dentro da cidade, as casas são pequenas, as pessoas ainda se conhecem, colocam verdes à porta e não há problema nenhum. Agora, nas urbanizações novas, onde predominam os prédios de apartamentos com muita gente, é mais complicado. Tanto podemos encontrar no 1º B uma família que nos abre a porta e acolhe bem como, no 1º C, alguém que não tem nada a ver com isto, antes pelo contrário, e nos põe a andar dali para fora”, diz o pároco.
Manuel Joaquim Rocha explica que houve, por isso, que encontrar um modelo novo de organização da visita pascal. Por forma a que cada uma das equipas saiba antecipadamente “a que casas é que vai bater sem correr o risco de levar com a porta na cara”.
Inscrições prévias
A solução encontrada foi distribuir pelos prédios – e afixar na porta de entrada – um formulário (uma simples folha A4), onde aqueles que pretendem receber a vista pascal se inscrevem, escrevendo o nome e o número do apartamento.
À partida para o terceiro ano desta experiência, a paróquia não tem uma ideia precisa de quantos moradores receberam a visita pascal nos anos anteriores. Mas há cada vez mais pessoas a aderir. “Há dois anos saíram três equipas para a rua, no ano passado saíram quatro e, para este ano, chegámos a pensar em cinco, mas ficamos pelas quatro”, adianta o padre Manuel Joaquim Rocha.
Música e donativos
Pelo que a vista pascal vai estar nas ruas da Vera Cruz, hoje, a partir das 14 horas, com quatro equipas. Cada uma é constituída por, pelo menos, cinco elementos (homens ou mulheres), mas é sempre presidida por um padre ou por um diácono.
Levam a Cruz, a sineta e a caldeirinha da água benta. Sempre que possível, as equipas fazem-se acompanhar por um grupo de jovens, que tocam e cantam. E incluem uma pessoa que se encarrega de receber os donativos.
“Antigamente o padre aproveitava a visita pascal para receber a côngrua. Hoje já não é assim, mas ainda há gente que oferece dinheiro”, explica o pároco.» (JN)