Uma substância presente nas cascas de camarão é a base de um material, na forma de uma película flexível e biocompatível, que uma equipa da Universidade de Aveiro (UA) está a estudar segundo um projeto de doutoramento de Dayana Guzmán Sierra, para ser utilizado na reabilitação muscular de pessoas com problemas de mobilidade.
Na prática, a equipa de investigação do Instituto de Materiais de Aveiro – CICECO, Laboratório associado ao Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica (DEMaC) da UA está a estudar materiais piezoelétricos, «capazes de converter um estímulo mecânico num sinal elétrico e vice-versa, e a sua aplicabilidade na área da biomedicina». A equipa pretende um material flexível, biocompatível e com propriedades piezoelétricas para ser utilizado em dispositivos médicos para a reabilitação muscular de pessoas imobilizadas temporariamente. A investigadora Paula Ferreira explica que o objetivo «é estimular mecanicamente o material piezoelétrico de forma a originar uma pequena corrente elétrica que vai provocar pequenas contrações musculares que devem ajudar a evitar a provável perda de massa muscular causada pela falta de movimento».
O material será uma «película fina, que será colocada sobre a pele do músculo a reabilitar, por exemplo em forma de penso, e, por isso, a biocompatibilidade do material é um requisito necessário para não causar alergias ou outros efeitos adversos nos doentes». Será uma «combinação de vários materiais, de forma a obter uma película flexível. Para isso, estão a misturar os materiais cerâmicos, sob a forma de nanopartículas, com biopolímeros – macromoléculas de origem natural».
O plano inclui um protótipo a testar em doentes de um hospital finlandês, associado à Universidade de Tampere, na Finlândia, parceira do projeto através da rede ECIU – European Consortium of Innovative Universities.
O projeto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia é «focado no desenvolvimento de bionanocompósitos piezoelétricos flexíveis para estimulação neuromuscular». Está numa fase inicial sendo que os testes realizados foram feitos apenas ao nível da medição de sinais, para conhecer as respostas dos doentes e saber como é que se podem originar sinais mais ou menos fortes.