Quando o iceberg A-84 da Plataforma de Gelo George VI no Mar de Bellingshausen, a oeste da península Antárctica, se desprendeu inesperadamente, a 13 de janeiro último, avançou a investigadora Patrícia Esquete, co-chefe da expedição, do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro (UA) para uma área «anteriormente inacessível à humanidade» e descobriu no fundo do mar um «ecossistema “bonito e próspero”», disse.
Fez-se «o primeiro estudo detalhado, abrangente e interdisciplinar da geologia, oceanografia física e biologia sob uma área coberta por uma plataforma de gelo flutuante», segundo comunicado da UA.
A investigadora de Aveiro e equipa, que integra Aleksandr Montelli (UCL Geography), também colíder da expedição, avançaram a bordo do R/V Falkor, do Schmidt Ocean Institute. «Aproveitámos o momento, alterámos o plano da expedição e avançámos para podermos observar o que estava a acontecer nas profundezas. Não esperávamos encontrar um ecossistema tão bonito e próspero. Com base no tamanho dos animais, as comunidades que observámos estão lá há décadas, talvez até centenas de anos», segundo a investigadora.
O iceberg A-84, com aproximadamente 510 quilómetros quadrados, revelou uma extensão «equivalente de fundo marinho para exploração científica». Para conhecer este ecossistema, os investigadores usaram o veículo SuBastian, operado remotamente, para explorar profundidades até 1.300 metros, o que fizeram durante oito dias. Descobriram um «ecossistema florescente, com grandes corais e esponjas que sustentam uma diversidade de vida marinha, incluindo peixes-gelo, enormes aranhas-do-mar e polvos». Uma descoberta que «oferece uma visão sem precedentes sobre o funcionamento dos ecossistemas sob as plataformas de gelo flutuantes da Antártida».
A expedição integrou o Challenger 150, uma «iniciativa global de investigação biológica em águas profundas, endossada pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (COI/UNESCO) como uma Ação da Década do Oceano».