A Inspecção-Geral de Saúde (IGS) voltou esta semana ao Hospital de Águeda para apurar a veracidade de situações alegadamente irregulares transcritas numa carta anónima enviada à Polícia Judiciária, noticia o JN.
«Uma das questões que está a ser investigada pela responsável da IGS, que esteve de segunda-feira a quarta-feira no Hospital, foi a realização de operações inseridas no Programa Especial de Combate às Listas de Espera Cirúrgicas (PECLEC) num horário em que os médicos deveriam estar na Urgência. A confirmar-se, trata-se de uma ilegalidade, visto que o PECLEC tem de ser executado fora do horário habitual dos clínicos, que recebem dinheiro extra pelo número de intervenções realizadas para diminuir as listas de espera.
Fontes contactadas pelo JN revelaram que em causa poderão estar cerca de uma centena de operações, realizadas entre 2003 e 2005, por quatro ortopedistas. São estes os clínicos que estão a ser inspeccionados por alegadas intervenções em horário da Urgência para a colocação de próteses da anca e do joelho. Os médicos recebem cerca de metade da verba atribuída pelo Ministério da Saúde para o PECLEC. O restante vai para o Hospital.
Eventuais peritagens feitas por médicos do Hospital, com contrato de exclusividade (um subsídio que vale cerca de 40% do ordenado), em actos médico-legais, a pedido do tribunal, estão igualmente sob averiguação.
O elevado número de viagens dos médicos ao estrangeiro para congressos custeados pelos laboratórios, coincidindo com períodos de férias dos clínicos, foi outra denúncia que está a ser alvo da inspectora, a mesma que no início de Março esteve no Hospital de Águeda para investigar presumíveis irregularidades relacionadas com viagens efectuadas, em 2004, ao estrangeiro por membros do conselho de administração liderado, na época, por Pedro Carvalho e pagas por duas multinacionais que queriam vender um aparelho de RX, um processo ainda não concluído.
Médico nega anomalias
José Brenha, ex-director do Hospital e responsável clínico da Ortopedia, é um dos quatro médicos que está a ser inquirido por causa do PECLEC e das peritagens. Brenha nega qualquer anomalia. “O PECLEC é um diferendo que existe com a anterior administração. Havia apenas uma troca de médicos. Se eu sou especialista em determinada operação que estava em PECLEC, estando na Urgência, eu iria operar e o colega do PECLEC vinha para a Urgência. Se nos obrigarem a devolver os 60 mil euros (15 mil por médico), vamos para o Tribunal Administrativo. No caso das peritagens, ia por indicação do Tribunal. É legal em comarcas que não têm peritos, como era Águeda”.» (JN)