Vilarinho do Bairro é o palco de uma onda de contestação levantada por cerca de uma centena de agricultores dos concelhos de Anadia, Mealhada, Oliveira do Bairro e Cantanhede, noticia o Diário de Aveiro.
«Ligados contratualmente à empresa Friopesca, sedeada em Aveiro, os pequenos produtores comprometeram-se a cultivar favas que, posteriormente, seriam vendidas àquela empresa. Assim, desde o início da semana, cada vez mais os agricultores se foram acumulando no local indicado para as cargas, situado junto ao recinto da feira de Vilarinho do Bairro. No entanto, foram poucos os camiões que acabaram por aparecer, fazendo com que, na maioria dos casos, os produtos agrícolas ficassem à espera durante vários dias, acabando por apodrecer.
Houve até quem dormisse no local para guardar o seu lugar. Isabel Vidal, proveniente da Venda Nova do Bolho, esteve no local desde domingo passado. «Ainda assim, só arranjaria marcação para quinta-feira. Chegado o dia agendado, não apareceu ninguém para recolher os seus produtos», lamenta.
Face ao descontentamento surgido, uma fonte ligada à empresa terá informado os agricultores dos problemas técnicos para justificar o atraso.
Ainda assim, esta não é uma situação virgem. Nos últimos anos, segundo garantem os produtores, esta é uma realidade que se repete. «Todos os anos somos confrontados com a mesma desculpa», recorda Joaquim Fernandes, residente na Venda Nova do Bolho.
«No ano passado, a situação foi quase idêntica e penalizaram-nos em seis por cento, alegando que o nosso produto não era de qualidade», referiu. «O nosso produto é de inquestionável valor. Eles é que acabam por estragar tudo, ao deixa-lo apodrecer, aqui ao sol», garantiu.
«Fica aqui o suor de um homem», lamentou António Gala, produtor da Amoreira da Gândara. Para o agricultor, «é uma grande dor que, após vários meses de trabalho árduo, vejamos os nossos produtos a apodrecer, por incompetência da entidade responsável pela sua recolha». «Garantiram-me que seria recolhida a minha colheita na quarta feira, no entanto, nada disso se confirmou», acrescenta.
Ontem, eram cerca de 70 os tractores que se concentravam no local, à espera que os seus produtos fossem recolhidos. Ainda assim, apenas às 13 horas surgiu o primeiro dos veículos, para assegurar uma pequena parte do transporte.
O medo e a incerteza pautavam o estado de espírito dos presentes, que questionavam quais seriam os resultados de vários meses de produção.
Com cerca de 48 horas de atraso relativamente às marcações já agendadas, tendo em conta as elevadas temperaturas, os produtores mantinham-se cépticos quanto à possibilidade de verem a qualidade dos seus produtos ser mantida. Uma dúvida que não sabem até quando vai durar.
Carlos Leitão, administrador da Friopesca, considerou «normal esta situação, tendo em conta as condições climatéricas». Apesar das adversidades, o responsável garantiu que esta é uma questão a regularizar nas próximas 24 horas.
No entanto, segundo o próprio, «esta situação poderia ter sido evitada com um pouco mais de disciplina por parte dos produtores». «A solução passaria por não se aglomerarem a fazerem as entregas todos na mesma altura», sublinhou.» (Diário de Aveiro)