Embora fora da época, a Câmara de Aveiro, através da Divisão de Museus e Património Histórico, apresenta este domingo uma Recriação da Festa da Botadela, entre as 11.00 e as 14.00 Horas, no EcoMuseu da Marinha da Troncalhada, um momento para recriar a confraternização e que marcava no passado o início da limpeza e preparação das marinhas para a produção do sal.
Além de marcar o início da produção do sal, a Festa da Botadela consistia, em simultâneo, na aplicação tradicional da ândoa (argila azulada) nos cristalizadores – substituído, actualmente, pelo processo de areamento dos mesmos -; nas danças e cantares da época, que acompanhavam o processo do arriar da moira (entrada de salmouras nos núcleos de cristalização), desenvolvido pelas mulheres e filhas dos marnotos vizinhos; e na confecção do jantar pela mulher do marnoto (recriação in loco).
Programa
11H00 – Ecomuseu da Marinha da Troncalhada
Visita guiada para assistir à a limpeza dos muros exteriores; forma tradicional de retirar a água do entraval (vala situada entre o tabuleiro do sal da marinha velha e a malhada, que é a denominação do espaço entre o entraval e o malhadal, que, por seu turno, é o muro que se segue à malhada e onde se situam as eiras e o palheiro); recolha da salicórnia; método tradicional de medição da salinidade das águas; processo de limpeza e plantação da horta; forma ancestral de afastamento das bruxas; momento de lazer onde se contam diversas histórias ligadas ao sal; o negócio e transporte do moliço; recriação do processo de redura (rêr o sal, o mesmo que tirar), do bulir (mexer as salmouras para não se formarem tremonhas, ou placas de sal) e do transporte tradicional do sal à cabeça para as mulas, ou montes.
12H30 – Jantar (designação tradicional do que chamamos hoje almoço) servido em louça tosca, com a seguinte ementa: Cabrinhas quentes; Sopa de bacalhau; Chicharro escalado ou bacalhau cozido com feijão verde; Broa; Água e Vinho; Figos e uvas.
“A situação geográfica, a força das marés, o Sol, os ventos e a posição da barra foram factores determinantes para a criação na região de uma importante e secular indústria salineira. O documento escrito mais antigo que se reporta às marinhas de Aveiro remonta ao ano de 959, no qual Mumadona Dias faz a doação das suas salinas ao Mosteiro de Guimarães. Esse documento refere a existência de 500 marinhas em Aveiro.
Sabe-se, no entanto, que as primeiras referências ao sal marinho em Portugal remontam ao século VIII a.C., com a inserção, pelos Fenícios, da indústria de conservas de peixe baseada na salga em tanques. Mais tarde os Romanos introduzem o reticulado em esquadria nos campos de cultivo, factos que nos levam a supor que a produção de sal marinho em Aveiro antecede o século X. Na Idade Média, era utilizado como moeda de troca em todo o Norte da Europa e África.
Em meados do século XX, com o surgimento da refrigeração dos produtos alimentares e com a concorrência do sal industrial e estrangeiro, a produção de sal marinho entrou em declínio. Contudo, o seu consumo continua a ser o mais aconselhável, em virtude de não apresentar qualquer tipo de metal pesado, resíduos ou pesticidas, uma vez que não carece de qualquer tratamento a posteriori”.