A Universidade de Aveiro apresenta um sistema que permite detectar a presença de uma das bactérias com mais prevalência no mundo – a Helicobacter pylori. As características não evasivas, a sua rapidez e o seu custo, que poderá ser 400 vezes inferior aos métodos actuais já mereceram a atenção dos especialistas da área, bem como o registo de uma patente.
A investigação parte da premissa de que «no ar expirado são exalados cheiros do nosso corpo que podem ser utilizados como meio de diagnóstico de várias doenças» e o Departamento de Química está a desenvolver «um novo sistema de diagnóstico que permite detectar a presença de uma bactéria que vive no estômago de cerca de 75% da população mundial: a Helicobacter pylori».
As grandes vantagens para o paciente é um exame «mais rápido, não invasivo e indolor». Para fazer a avaliação, bastará que o paciente «tome um comprimido, cápsula ou gota de líquido, com um determinado composto. Este vai para o seu estômago e se a Helicobacter Pylori estiver no estômago, esta será muito selectiva na produção de ácidos muito específicos que estão relacionados com os compostos presentes no comprimido, cápsula ou líquido. Alguns minutos depois a pessoa sopra para um tubo e a composição do ar que a pessoa soprou permitirá detectar se a bactéria está presente ou não».
Este método apresenta ainda outros benefícios em termos de custo da sua aquisição e na abrangência com que pode ser utilizado. Segundo Sílvia Rocha e Manuel António Coimbra, este meio de diagnóstico, já registado em patente, é 400 vezes mais barato e, pelo baixo custo e comodidade para quem faz o teste, poderá, num futuro próximo, ser utilizado em estudos epidemiológicos.
«Uma vez que se trata de uma bactéria que em Portugal atinge níveis de contaminação muito elevados, semelhantes aos países subdesenvolvidos, uma das principais vantagens deste processo é poderem ser feitos rastreios à população e perceber melhor as causas da grande incidência de infecções. Aliás, é um trabalho que tem interesse a nível mundial, porque se trata de uma bactéria que coloniza uma percentagem muito elevada da população, embora na maior parte dos casos os portadores da bactéria se encontrem numa situação assintomática. Com um teste rápido, barato e acessível, este trabalho é facilitado e permite-nos decifrar quais as populações consideradas de risco e as que não o são».
Depois de possuir este conhecimento, os investigadores podem interagir com essas populações e chegar ao tratamento e à prevenção de determinadas doenças provocadas pela bactéria. Uma das formas poderá ser a administração de vacinas. No entanto, os investigadores alertam: para que tal se possa concretizar será necessário o estabelecimento, numa primeira fase, de parcerias com as indústrias farmacêuticas de diagnóstico e de instituições de saúde.
«Se a pessoa for tratada numa fase ainda assintomática, em termos de saúde, há um ganho. Já provámos que o método desenvolvido por nós tem aplicabilidade, no entanto, a partir de agora é necessário fazer um conjunto de ensaios clínicos que só a indústria farmacêutica pode fazer. Actualmente, um teste deste género é vendido a 50/60 euros. Com a utilização dos compostos propostos por nós, pode ser vendido no futuro por 1 ou 2 euros».
Este projecto aliou a oportunidade de no Departamento de Química da UA se ter iniciado, recentemente, o estudo da H. Pylori com vista à obtenção dos conhecimentos químicos e bioquímicos que levem ao desenvolvimento de uma vacina, num projecto financiado pela FCT, com o conhecimento que já detém há mais tempo na análise dos compostos voláteis. Hoje em dia, a análise do ar expirado está a ser um tópico de estudo utilizado no mundo inteiro.»