A safra do sal, em Aveiro, começou há cerca de dois meses. E, apesar de ainda ser cedo para comparar com os milhares de toneladas retirados em 2005 das marinhas, os marnotos consideram que este ano vai ser produzido menos sal. No que toca ao número de marinhas a trabalhar, mantêm-se as oito.
João Banca, marnoto desde 1969, conseguiu, no ano passado, retirar da marinha da Troncalhada mais de 200 toneladas. Não vendeu nada. Este ano, começa a recear não ter espaço para guardar tanta produção. “Este ano não está a correr muito mal, embora pareça que se vai fazer menos sal, devido ao pouco vento. No ano passado, já se produzia sal em Maio. Mas também não se vendeu a produção de 2005, está aí o sal todo”, lamenta João Banca.
Mais do que as toneladas que este ano se vão produzir, os marnotos de Aveiro estão preocupados com a falta de escoamento do produto. “É muito complicado estarmos a trabalhar o ano todo, a dedicar-nos às marinhas, e depois não conseguimos vender o sal. Preciso deste dinheiro para governar a minha vida. As empresas revendedoras preferem o sal industrial estrangeiro, porque é mais barato. O nosso, que é de qualidade, fica aqui de ano para ano”, sublinha João Banca.
De vez em quando, conta o marnoto, “há uma ou outra pessoa que vem cá e compra um saco de sal. Mas isso não é nada, não chega para viver, nem paga o nosso trabalho”. Desde Maio, João Banca dedica parte do seu tempo às marinhas. Levanta-se cedo, “para aproveitar o fresco”, e com a ajuda do filho começa a retirar o sal que já está produzido. O resto do dia é passado a deitar água nas marinhas e a retirar mais sal.
“Não faço outra coisa o dia todo. E com o calor que vai, não é fácil estar aqui o dia todo. Ainda para mais quando se sabe que ainda está por vender a produção do ano passado”, realça o marnoto. No entanto, João Banca mantém a esperança “Tenho de acreditar que este ano vamos conseguir vender qualquer coisa”.
À espera de associação
Em Maio, os marnotos decidiram criar uma associação, com o apoio da Câmara, que tem como objectivo dar início ao processo de certificação do sal de Aveiro e defender os interesses dos homens que ainda trabalham as marinhas.
João Banca lamenta que a associação ainda não esteja a funcionar. “A nossa salvação passa por essa associação, por ter alguém que defenda os nossos interesses e nos ajude a vender o sal”, afirma o marnoto.» (JN)