Tem havido «muito alarmismo» em volta da questão da gripe das aves, noticia o Diário de Aveiro.
«Esta é a opinião dos ornitólogos do projecto BioRioa, Rui Brito e António Pereira, para quem é necessário desmistificar a polémica que envolve as aves selvagens com este vírus, uma vez que os pássaros encontrados sem vida podem não ter morrido apenas da estirpe em questão. «As notícias falam que foram encontradas algumas aves mortas, mas não se vê mais tarde a confirmação da causa da morte daqueles pássaros. Podem ter morrido por outros motivos», sublinha António Pereira.
Os dois ornitólogos explicam que é natural aparecerem aves mortas, visto que faz parte do seu ciclo natural e porque são muito dadas a doenças, principalmente nesta época. «Até ao momento, ouve-se falar de quatro a cinco aves mortas por notícia. Números normais, porque todos os dias morrem animais naturalmente», explica Rui Brito, alertando para a necessidade de acompanhar mais as aves de cativeiro.
O facto destas aves domésticas estarem aglomeradas em grupos com centenas ou milhares de aves faz com que o vírus se transmita muito facilmente. E são estes animais que são transaccionados entre vários países através dos ciclos de exportação.
«Se a doença se transmitisse facilmente entre as aves selvagens, apareceriam muitos mais animais mortos de uma só vez. O que tem sido encontrado é uma percentagem mínima, tendo em conta o número global de aves existentes», reflecte Rui Brito. Por outro lado, António Pereira refere que «morreram mais pessoas com gripe ou com fome, entretanto, do que de gripe das aves».
O alarmismo que existe sobre o tema é, segundo os dois ornitólogos, mau para a conservação das aves. Rui Brito diz que, nesta altura, as andorinhas chegam para fazerem os seus ninhos nos beirais das casas e já há pessoas a destruir os ninhos porque estão preocupadas com a permanência das aves perto de si. «Sem local onde ficar, as andorinhas não podem alimentar-se ou reproduzir-se e a conservação da espécie sofre com o ambiente polémico que se vive», revela Rui Brito. O ornitólogo acrescenta que a andorinha não contacta com patos, nem pára no chão e, por isso, não há perigo de contágio. Assim como a andorinha, existem muitas outras espécies de aves para as quais o risco de adquirirem o vírus da gripe das aves é quase inexistente. Neste sentido, as populações não devem ficar alarmadas com o surto da doença só porque existem aves a nidificar perto das suas casas.
António Pereira e Rui Brito sugerem que as populações se informem correctamente sobre o que está a acontecer e sobre quais os devidos cuidados a ter. Qualquer dúvida deve ser esclarecida junto de entidades competentes como o Instituto para a Conservação da Natureza (ICN) através do número 213507900. O gabinete do BioRia, em Estarreja, também está disponível para responder a questões sobre a gripe das aves através do endereço electrónico bioria@cm-estarreja.pt ou do número de telefone 234840600.
Em Portugal o caso está, segundo Rui Brito, a ser bem acompanhado com equipas de vigilância. As situações noticiadas eram relativas a aves mortas por causas normais. No que diz respeito ao percurso do BioRia, no Esteiro de Salreu, ainda não surgiu qualquer situação de alarme.» (Diário de Aveiro)