TUBO DE ENSAIO - A FAMÍLIA E EU

De tanto mandarem vir a chuva, ainda havemos de tê-la em dobro. Queira Deus que não! A mim, na verdade, a não ser que seja destruidora, dá-me igual - adoro a chuva! Gosto do cheiro, da cor, do brilho que se desprende da matéria, do ciclo que a natureza completa e que se manifesta diante de nós sem rodeios.
A minha tia não.
De maneira nenhuma.
Já anda em preparativos há quinze dias..."ah! Meu Deus! Trovoadaaaaaaa!!" - e aquela que eu considerava a líder da família faz cara de beicinho e põe-se a tremer!!! Arre!!!!!! Meu Deus, digo eu!! Só me faltava mais esta. A fase pior já passou, mas agora é o medo do escuro, do mau tempo, as cuscas todas lá em casa, com conversas de fazer tremer as hostes divinas, o regresso do velho vício do Bingo, e, infelizmente, o meu amor por ela bloqueado, sem lhe poder valer o meu coração nesta hora para ela tão difícil. Eu juro que me esforço, mas não consigo dar-lhe alento, pelo contrário, sinto que nos afastamos uma da outra, espero que não irremediavelmente...

Outras notícias: a minha Xaninha vai para Sintra. A minha boa amiga não pára. E logo para Sintra, aquele "promontório da Lua". É desta que a minha alma se vai consolar!! Há anos que quero lá ir, e só não fui por falta de oportunidades, mas porque eu sabia que ia ser um acontecimento na minha vida. Sei-o há muito tempo, ninguém mo disse, mas a minha certeza é séria. De maneira que sei que é agora o momento. Espero que seja um bom momento.

Entretanto, um velho amor perdido, ao pressentir o voo iminente de um dos seus pássaros preferidos, faz pressão, usa estratégias e delicadezas pensadas, na tentativa de manter o velho hábito. Aquele, que já não agrada a ninguém. E eu suspiro com apreensão e alguma tristeza à mistura, como pode um amor tão antigo não entender ainda, que pássaro sem asas, é castrado?!?

Maria